Serrana será prova de fogo contra variante P1 da Covid, diz Butantan

A última etapa de aplicação da segunda dose da Coronavac começou quarta-feira (7) e terminou neste domingo
créditos: Folhapress

 

A campanha de vacinação em massa contra o novo coronavírus feita em Serrana (SP), na região metropolitana de Ribeirão Preto, será uma prova de fogo para conhecer a eficácia contra a variante brasileira da Covid-19.

Foi o que afirmou neste domingo (11) o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, em evento na Fundação Cultural de Serrana que marcou o encerramento da campanha de vacinação.

"Nesta semana tivemos resultados de grupo de pesquisadores que dizem que a resposta [à nova variante] pode ser muito favorável. Mas Serrana vai ser realmente a prova de fogo se dará para saber se, em meio a esses casos de P1 que ocorrem em toda a região, se conseguimos com a vacinação controlar a variante."

O município de 45 mil habitantes foi escolhido pelo Butantan para um estudo inédito –batizado de projeto S– que teve como objetivo analisar o impacto e a eficácia da vacinação na redução de casos do novo coronavírus e no controle da pandemia.

A última etapa de aplicação da segunda dose da Coronavac começou quarta-feira (7) e terminou neste domingo.

Foram aplicadas no total 54.872 doses nas duas etapas de vacinação na cidade, com 46 eventos adversos graves, segundo o Butantan.

Foram registrados seis óbitos por Covid-19 entre os vacinados, sendo que cinco das vítimas tinham tomado apenas uma única dose e, no último caso, a pessoa morreu dois dias após receber a segunda dose da vacina.

"Possivelmente, no momento de tomar a segunda dose, a pessoa já estava com a infecção", disse Palacios. Nenhum dos eventos adversos foi relacionado à vacinação, segundo ele.

Entre as pessoas não vacinadas, no mesmo período, houve 14 óbitos por Covid-19, ainda conforme o Butantan.

Por isso, de acordo com Palacios, quando são comparados os dados dos vacinados com os de quem não tomou vacina, o total de casos da Covid-19 entre os que não tomaram a vacina é significativamente maior.

"Apesar que esse não é um indicador absoluto de eficácia, estamos apenas na primeira semana de eficácia do grupo verde [um dos quatro nos quais Serrana foi dividida], mas é um dado de esperança." Ele disse ainda que o efeito da vacina, mesmo em circunstância que ainda não é ideal, tem sido condizente com as informações que estão sendo recebidas de outros lugares do país.

Segundo o Butantan, para que a imunidade esteja completa é necessário aguardar pelo menos duas semanas depois de receber a segunda dose da vacina.

Por isso, somente após esse prazo será possível observar os resultados preliminares do projeto. A previsão é que as primeiras conclusões do estudo sejam publicadas em meados de maio. Os participantes do estudo serão acompanhados por um ano.

O diretor disse ainda que os registros de que grupos de pessoas mais idosas têm apresentado menos casos graves e menos óbitos são importantes por coincidirem com o surgimento da variante P1, "que tem como característica ter um vírus capaz de se replicar de forma mais eficiente nas vias aéreas respiratórias".

A campanha de imunização em massa em Serrana atingiu cobertura vacinal geral de 95,7% do público alvo, com 27.160 pessoas que receberam as duas doses.

"O que nós sabemos, e isso foi feito tanto nos estudos que lidera o Butantan, da fase 3, como estudos de outros países, que o efeito fica mais evidente duas semanas após a segunda dose.

Então isso também nos chama atenção para ajustarmos expectativas. Não esperamos que a vacinação vá produzir efeito imediato, ela precisa agir no organismo de cada uma das pessoas que recebem a vacina para que se produzam os anticorpos", disse Palacios.

Apesar disso, a prefeitura diz já ver sinais positivos em Serrana, com a redução de casos suspeitos nas unidades ligadas à administração, como a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), e a não intubação de pacientes nos últimos dias.

A última intubação devido à Covid-19 na UPA foi feito dia 29 de março. Depois, o paciente foi encaminhado para a UTI do Hospital Estadual. Há cinco pacientes da cidade internados na UTI, mas todos referentes ao mês de março.

Em 12 de fevereiro, cinco dias antes do início do projeto do Butantan, a cidade do interior tinha 2.470 casos da doença, com 57 óbitos. Na última quinta, chegou a 3.557 casos do novo coronavírus, com 80 óbitos.

A alta procura fez com que o prefeito Léo Capitelli (MDB) projete a retomada econômica, social e educacional da cidade.

"Muitos entes queridos se foram com esse inimigo invisível que é a Covid-19. Hoje temos a oportunidade de combater esse inimigo e vencer essa guerra. Os números apresentados em Serrana nos dão esperança de que temos sim condições de vencer essa guerra", disse o prefeito.

Ele afirmou que a cidade será dividida em antes e após o projeto do Butantan e que agora o objetivo será tratar com o governo do estado para que Serrana seja exemplo de retomada econômica, social e educacional. "E exemplo para o Brasil e o mundo no combate à Covid-19."

A secretária da Saúde de Serrana, Leila Gusmão, disse que o sentimento é de esperança na cidade após a campanha, para que em pouco tempo possa efetivamente retomar todas as suas atividades.

"Que nossas crianças voltem às aulas e possamos ter uma cidade trabalhando com mais tranquilidade do que estamos vivendo agora. Que esse projeto sirva como exemplo, esperança e contribuição para a ciência. Como Serrana foi presenteada com esse projeto maravilhoso, nossa torcida é que isso aconteça para o mundo todo", disse.

 


 


COLUNISTA
Eudes Martins
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