Pandemia de Covid no DF se agrava, com corpos no chão de hospital e convocação de dentistas

O quadro fez com que o governo convocasse dentistas para atender pacientes com Covid-19
créditos: Folhapress

 

Com o agravamento da pandemia de Covid-19, o Distrito Federal passou a conviver com um cenário desolador em que pessoas são atendidas na recepção de hospitais e corpos permanecem no chão das unidades de saúde até serem removidos.

O quadro fez com que o governo convocasse dentistas para atender pacientes com Covid-19, como aponta uma circular assinada pelo secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Petrus Leonardo Barrón Sanchez, nesta segunda-feira (22).

Os anestesistas também foram encaminhados para atendimento aos pacientes com necessidade de intubação, exceto no centro cirúrgico das unidades hospitalares.

Para conseguir remanejar os trabalhadores de saúde, o governo fechou todos os ambulatórios da atenção secundária, com exceção daqueles voltados à saúde mental. As medidas, segundo o documento, seriam uma forma de mitigar as dificuldades no atendimento ao paciente com Covid.

Além disso, foram suspensas todas as cirurgias eletivas cardiovasculares, oncológicas e também os transplantes na rede pública do Distrito Federal. Outra recomendação é para que sejam suspensas as licenças-prêmios de servidores durante o período.

O Distrito Federal enfrenta um dos piores momentos da pandemia. Há 415 pessoas à espera de um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A taxa de ocupação é de 95,8% nesta terça-feira (23).

Com a situação crítica dos leitos, nem a judicialização tem resultado na garantia de vagas imediatas segundo informou o secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal, Gustavo Rocha, em coletiva nos últimos dias. O governo recomendou também a suspensão das cirurgias que forem judicializadas.

"Às vezes vêm a decisão judicial para cumprir, mas como que vai fazer se não tem leito? Nós temos que perguntar ao Poder Judiciário quem vamos tirar para colocar esse paciente, mas esse comando nunca vem", afirmou. "A situação está no limite, decisões judiciais têm que ser cumpridas, mas, se não há disponibilidade de leitos, não tem como cumprir nesse momento."

Há relatos de corpos que ficaram nos corredores aguardando remoção em unidades de saúde de Guará e Ceilândia, segundo profissionais que trabalham nesses locais.

No Hospital Regional de Ceilândia, o corpo de um homem ficou enrolado em um lençol por mais de 24 horas. Áudio obtido pela reportagem mostra que o governo do Distrito Federal não tinha saco compatível com o tamanho da vítima, que apresentava sobrepeso.

"Por um acaso a funerária possui o saco maior que caiba esse corpo? Se tiver condição de doar o saco, o hospital faz o procedimento. Em último caso falei, inclusive, para enrolar em lona", diz um funcionário do governo no áudio.

No HRAN (Hospital Regional da Asa Norte), referência para a Covid-19, a reportagem flagrou pessoas recebendo atendimento na recepção. Na segunda-feira (22), o hospital passou a operar em bandeira vermelha e a atender somente pacientes muito urgentes.

No Distrito Federal já foram registrados 330.885 casos de Covid-19 e 5.441 mortes pela doença. A média móvel de mortes chegou a 42,3 na segunda-feira (22), atingindo um dos maiores valores registrados desde o início da pandemia.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), tem tomado medidas desde fevereiro para tentar conter a disseminação do vírus. Desde o primeiro decreto, entretanto, essas ações foram afrouxadas.

No mesmo dia em que decretou toque de recolher das 22h às 5h, o governador autorizou a retomada do funcionamento de escolas e estabelecimentos de ensino particulares e academias. As medidas seguem até o dia 28 de março.

Já no dia 9 de março foi decretado estado de calamidade púbica em decorrência da Covid-19. Deputados distritais aprovaram a prorrogação do prazo até junho de 2021.

O governador já anunciou a criação de três hospitais de campanha que estão com licitação aberta pelo governo. Cada hospital terá cem leitos de UTI.

Ibaneis disse, nesta segunda-feira (22), que também está negociando a compra de vacinas contra a Covid-19 diretamente com fornecedores, como estratégia complementar ao Plano Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.

O governo do Distrito Federal ainda não se pronunciou sobre a situação dos corpos nos hospitais.

 


 


COLUNISTA
Eudes Martins
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