Nordeste é a região com o menor rendimento médio do país

Pnad Contínua do IBGE revela que apesar da concentração de renda ter diminuído na região, o grupo dos mais pobres não ganhou mais.
créditos: Folhapress

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira (16) a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua) com o retrato da distribuição de renda e riquezas entre os vários estratos sociais no Brasil. Os dados regionais apontam que o Nordeste continua ocupando o posto de região com o menor rendimento médio por habitante: R$ 1.497,00.
O valor está abaixo da média nacional. É que pelos cálculos da pesquisa, o rendimento médio mensal de todos os trabalhos (de pessoas de 14 anos ou mais) em 2018 ficou em R$ 2.234. O Sudeste é a região que possui o maior rendimento nacional: R$ 2.572.

Ressaltando ainda mais o aspecto regional da disparidade de renda no Brasil, região Sul, que possui cerca de metade da população nordestina, tem massa de rendimentos maior que as dos nove estados do Nordeste. Os estados sulistas somam um total de R$ 47,7 bilhões em rendimentos, ante os R$ 46,1 bilhões dos estados nordestinos, dentre eles, o Piauí.
No tocante à concentração de renda, a região Nordeste foi a única exceção do país, tendo registrado uma diminuição na desigualdade de rendimentos. Mas isto não aconteceu porque os pobres que aqui vivem ganharam mais ao longo de 2018, e sim porque a parcela da população que ocupa o topo do estrato social (a porção mais rica) perdeu renda.

Excetuando-se o Nordeste e observando-se o cenário do país como um todo, a Pnad Contínua revela que a concentração de renda no Brasil persistiu ao longo do último ano. O rendimento médio mensal do 1% mais rico da população brasileira atingiu, em 2018, o equivalente a 33,8 vezes o ganho obtido pelos 50% mais pobres. No topo, o rendimento médio foi de R$ 27.744; na metade mais pobre, de R$ 820.

A diferença entre os rendimentos obtidos pelo 1% mais rico e dos 50% mais pobres no ano passado é recorde na série histórica da Pnad do IBGE, iniciada em 2012.

A desigualdade aumentou porque o rendimento real da metade mais pobre caiu ou subiu bem menos do que o dos mais ricos, sobretudo nos últimos anos.

De 2017 para 2018, por exemplo, o ganho dos 10% mais pobres caiu 3,2% (para R$ 153 em média) enquanto o do 1% mais rico aumento 8,4% (para R$ 27.774).
Desde o início da pesquisa, e coincidindo com o aumento na desigualdade, houve ainda uma diminuição no total de domicílios atendidos pelo Bolsa Família, de 15,9% no total do país em 2012 para 13,7% em 2018.

Vista de outro ângulo, a extrema concentração de renda no Brasil revela que os 10% da população com os maiores ganhos detinham, no ano passado, 43,1% da massa de rendimentos (R$ 119,6 bilhões). Na outra ponta, os 10% mais pobres ficavam com apenas 0,8% da massa (R$ 2,2 bilhões).

Apesar da extrema concentração de renda mostrada na pesquisa, ela não revela outros aspectos da questão.

Como se trata de uma pesquisa domiciliar, a partir de um questionário, as pessoas mais ricas e com outras fontes de renda -sobretudo de aplicações financeiras e aluguéis- tendem a não mencionar esses ganhos quando abordadas.

Já o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris e que agrega pesquisas domiciliares, contas nacionais (onde constam subsídios e incetivos a grupos) e declarações de imposto de renda, sustenta que a concentração de renda no Brasil é ainda maior: o 1% mais rico se apropria de 28,3% dos rendimentos brutos totais.

Na outra ponta, os 50% mais pobres ficam com apenas 13,9% do conjunto de todos os rendimentos.
Por esses cálculos, o Brasil é o país democrático mais desigual do mundo, atrás somente do autocrático e minúsculo Qatar.

Diferentemente de outras pesquisas que captam melhor ganhos de capital, na Pnad a renda do trabalho é preponderante para o cálculo do rendimento médio (representa 72,4% do total), seguida por aposentadorias e pensões (20,5%). O item "outros rendimentos" responde por apenas 3,3%.

Segundo especialistas, a desigualdade de renda no Brasil é alta e persistente por conta de fatores históricos e estruturais, como a herança escravocrata, o patrimonialismo que se apodera de recursos estatais e empregos públicos, políticas sociais voltadas a grupos que menos precisam e uma estrutura tributária regressiva, que cobra proporcionalmente mais impostos de quem ganha menos.

 

 


COLUNISTA
Eudes Martins
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